O professor Bart Wilson, da Universidade Chapman, na Califórnia, e eu estamos escrevendo um ensaio dirigido aos nossos colegas economistas sobre o que chamamos de “humanômica”. Wilson e eu, com muito poucos outros, como o prêmio Nobel Vernon Smith, tentamos há décadas convencer os economistas a olharem além de um behaviorismo estreito, o dogma metodológico de que os seres humanos devem ser estudados como se fossem gorilas, formigas ou moléculas, ou mesmo rochas, sempre de fora. O behaviorismo pressupõe que o economista não sabe o que se passa na cabeça dos humanos. Os behavioristas dizem: “Olhe apenas para os atos externos deles. Falar não tem sentido”.
Mas é claro que, como humanos, temos pelo menos alguma ideia do que se passa na cabeça do nosso marido, colega de trabalho ou filho. Afinal, fazemos mais do que sinalizar ofertas. Conversamos o dia todo, lemos “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, assistimos filmes, rimos com os amigos, fazemos negócios com outros humanos conversando, conversando, conversando.
Mas eu disse que Wilson e eu tentamos “há décadas” transmitir esse ponto óbvio. Estou no caso desde 1983. Nossos colegas acham que é de certa forma anticientífico analisar todas as evidências disponíveis de uma ciência humana.
Na semana passada, contudo, Wilson e eu fizemos um grande avanço. Acreditamos agora que podemos convencer gentilmente outros economistas a levarem a sério o pensamento e a fala humanos, o amor e o riso, e a deixarem de tratar sua ciência como semelhante ao estudo das formigas.
De repente, percebemos que podemos lhes falar sobre a enorme literatura científica –e humanística– que aponta a linguagem como a característica distintiva dos humanos. É verdade que os humanos têm muito em comum com nossos primos grandes símios. Mas os primos não podem, como nós, pensar simbólica e abstratamente. Sobre economia, digamos.
Obviamente, o resultado dessa façanha exclusivamente humana é a cultura mental e verbal que compartilhamos e comercializamos. Imagine seres humanos sem linguagem, grunhindo e apontando, na melhor das hipóteses. Grunhir e apontar, contrariamente à suposição implícita dos nossos colegas behavioristas, não são suficientes para gerir uma economia. Negociar acordos, conceber produtos, imaginar um novo emprego, esperar a inflação, acreditar na ação estatal de cima para baixo e acreditar no comércio livre são pensamentos e discursos juntos.
Economia é melhor, sim?