Celina Leão assina regularização de áreas no DF

As Ordens de Serviço que autorizam a licença de regularização ambiental do Assentamento Santarém, no Sol Nascente/Pôr do Sol, e de autorização da licença de parcelamento de solo no Setor Habitacional Tororó, no Jardim Botânico, foram assinadas, na manhã deste domingo (14/7), pela governadora em exercício, Celina Leão (PP).

Aguardado há 10 anos, o documento de regularização ambiental do Assentamento Santarém vai beneficiar 28 famílias, permitindo que produtores rurais procurem financiamentos e participem de programas institucionais de venda. Além disso, será possível a construção de infraestruturas importantes para a produção rural na região e a regularização de lotes.

Segundo Celina, a licença é um avanço no processo de regularização fundiária do governo atual — em parceria com o Instituto Brasília Ambiental (Ibram), que executa as políticas de meio ambiente e recursos hídricos do DF, já foram entregues mais de 400 títulos de regulamentação.

“Sem esses títulos, você não consegue financiamento, não consegue trazer o desenvolvimento para a área rural, trazer as tecnologias e os investimentos necessários”, explicou Celina durante a cerimônia de assinatura. “A gente sabe que, quando uma pessoa é assentada, ela quer ter o apoio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) e da Secretaria de Agricultura, ter acesso a semente para plantar, ter um técnico agrícola aqui para explicar como é o processo de produção, e é isso que nós estamos fazendo”, afirmou.

Após a assinatura da regularização, Celina seguiu para o Jardim Botânico, para a autorização da licença de parcelamento de solo do Setor Habitacional Tororó. “Isso é uma coisa inédita. É um bairro inteiro com uma regularização super importante, com uma condição de regularidade no Ibram”, apontou a governadora em exercício.

O documento permite que todos os projetos de condomínios da área sejam realizados conforme as leis ambientais. “Hoje a gente vira uma chave muito importante. Nós estamos dando a um bairro inteiro uma licença ambiental, e evitando a dificuldade diária do Ibram de todos os dias — uma ocupação de forma desordenada que não deixa a área de preservação ambiental, e que depois não é possível regularizar, porque temos que cumprir as legislações. Então quando você dá uma licença para um bairro todo, você trilha e traça diretrizes e eu tenho certeza que é isso que os empreendimentos vão fazer aqui nessa área”, defendeu.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

Alta nos preços de petiscos e ‘fast food’ faz empresas repensarem estratégias

Seis dólares, o equivalente a R$ 32, é muito caro por um pacote de Ruffles? Após quase três anos de aumentos de preços, sinais de que os consumidores chegaram ao limite para desembolar a quantia estão começando a surgir.

Na quinta-feira, a gigante de alimentos e bebidas PepsiCo relatou uma queda de 0,5% nas receitas no segundo trimestre em seu negócio de biscoitos Frito-Lay — equivalente à Elma Chips — em relação aos níveis do ano anterior, resultado de uma queda de 4% nos volumes de vendas na categoria.

Em uma conferência de resultados, os executivos da PepsiCo foram bombardeados com perguntas de analistas acerca do preço de alguns de seus biscoitos mais populares, como os chips de tortilha Tostitos e as batatas fritas Ruffles: eles simplesmente não se tornaram caros demais?

Os executivos reconheceram que alguns consumidores estão se tornando cada vez mais conscientes dos preços, com famílias de todas as faixas de renda buscando preços mais baixos.

— Há claramente um consumidor que está mais desafiado. E um consumidor que nos diz que, em partes específicas de nosso portfólio, eles querem mais valor para permanecer com nossas marcas — disse o CEO da PepsiCo, Ramon Laguarta.

Para fazer com que mais pessoas comprem os produtos, a PepsiCo disse que pretendia reduzir os preços ou oferecer mais promoções em certos biscoitos e outros produtos.

— Há algum valor a ser devolvido aos consumidores após três ou quatro anos de muita inflação — disse Laguarta.

A PepsiCo não é a única empresa de alimentos e bebidas enfrentando dificuldades com consumidores que mudaram seus hábitos de compra nos últimos meses. À medida que os preços das commodities e da mão-de-obra dispararam nos últimos anos, empresas de alimentos e bebidas, bem como restaurantes, responderam aumentando os preços de forma constante.

Agora, no entanto, alguns consumidores estão no limite, comprando menos ou optando por marcas mais baratas de supermercados.

A inflação, especialmente dos alimentos, provavelmente será um tópico quente nas eleições presidenciais deste ano. Na quinta-feira, o governo relatou que o índice de preços ao consumidor geral moderou para 3% em junho, em base anual, abaixo dos 3,3% de maio e significativamente reduzido do pico de 9,1% em 2022.

Mas o custo dos alimentos em supermercados e restaurantes é substancialmente mais alto do que há quatro anos, embora os preços tenham moderado nos últimos meses.

Os preços elevados dos alimentos não são apenas consequência do aumento das despesas com commodities e mão de obra, mas também de fabricantes de alimentos, varejistas e cadeias de restaurantes tentando satisfazer investidores, incluindo fundos de pensão estaduais e outros. Preços mais altos aumentam as margens de lucro e pagam bilhões de dólares em dividendos e recompras de ações.

Agora, no entanto, à medida que os volumes das empresas de alimentos e o tráfego de alguns restaurantes começam a diminuir, fabricantes e cadeias de alimentos estão começando a considerar a redução de preços ou ofertas de promoções para atrair os consumidores de volta.

No final de junho, o McDonald’s começou a oferecer uma refeição de valor de US$ 5 (cerca de R$ 27) por um período limitado de um mês. A rede de supermercados americana Whole Foods disse que reduziu os preços de um quarto dos produtos em suas lojas. E a varejista Target disse que planejava cortar preços neste verão em cinco mil “produtos do dia a dia”, incluindo leite, pão e fraldas.

No geral, a PepsiCo disse que as receitas cresceram cerca de 1% no trimestre encerrado em 15 de junho, para US$ 22,5 bilhões (cerca de R$122 bi), e que o lucro líquido aumentou 10,4%, para quase US$ 3,1 bilhões (cerca de R$ 16,8 bi), em relação ao ano anterior. Mas uma análise mais profunda de alguns dos números revelou fraqueza em muitos dos negócios norte-americanos da empresa.

A Quaker, marca de barras de café da manhã e lanches, relatou uma queda acentuada de 18% nas receitas e uma queda de 34% no lucro operacional, devido em grande parte a um recall de alimentos que começou no final do ano passado envolvendo possível contaminação por salmonela de produtos alimentícios fabricados em uma fábrica de Danville, Illinois. Em abril, a PepsiCo decidiu fechar permanentemente a unidade.

Mas os analistas em uma teleconferência com executivos da PepsiCo na manhã de quinta-feira estavam mais focados no negócio de biscoitos.

A definição de uma estratégia de preços que reflita o que os consumidores estão dispostos a gastar, e o que não estão, ajudará a reverter a queda em muitos dos setores da empresa, disse Laguarta aos analistas.

— Você vê comportamentos diferentes acontecendo em todos os lugares. A linha de conexão seria: o consumidor está mais cauteloso. Mas ele está disposto a gastar em áreas onde vê valor — disse Laguarta.

Folha de pagamento é uma “novela desnecessariamente prolongada”, diz Pacheco

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), avaliou, nesta sexta-feira (12/7), que a questão da desoneração da folha de pagamento dos 17 setores da economia e municípios de até 156 mil habitantes é uma “novela desnecessariamente prolongada, desde o momento em que o Poder Executivo, não aceitando a decisão do Congresso Nacional em relação a esse tema, editou uma medida provisória”.

“Depois judicializou a medida provisória, depois uma nova medida provisória para apresentar uma medida de compensação absolutamente inadequada. Isso tem se arrastado ao longo do tempo e tem sido objeto de desgaste do Poder Executivo e do Poder Legislativo por algo desnecessário e eu acho que já tinha que ter virado essa página”, observou o senador durante o 19º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji.

Pacheco, os líderes do governo Jaques Wagner (PT-BA) e Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), junto ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acordaram que a desoneração continue como está em 2024 e então a folha passe a ser reonerada a partir de 2025 gradativamente. Jaques, o relator do texto, ainda não protocolou seu parecer, que está previsto para ser votado no plenário na próxima semana, quando se encerra o prazo dado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para que um acordo fosse costurado.

O presidente do Senado argumenta que os 17 setores são “altamente empregadores” e que por isso devem ter uma lógica de recolhimento para a Receita diferenciada e “mais justa”. No caso dos municípios, a reoneração seria gradativa até atingir a marca de 20%, proposto pelo governo em uma das MPs editadas.

“Isso já está resolvido, foi acordado. Não há porquê o governo federal, o Ministério da Fazenda, o Congresso Nacional estabelecerem qualquer tipo de conflito em relação a isso. Agora, temos que encontrar uma fonte de compensação, porque o Supremo Tribunal Federal, provocado pelo Poder Executivo que não aceitou a decisão política do Congresso Nacional, exigiu a apresentação da fonte de compensação”, disse.

Pacheco argumenta que oito fontes haviam sido contempladas na lei que prorroga a desoneração da folha até 2027, aprovada no ano passado, “inclusive uma delas que já foi experimentada há sete anos atrás e que só ela rendeu R$ 46 bilhões para o Estado brasileiro de arrecadação”. “Mas o Ministério da Fazenda está desconsiderando essa possibilidade – essas oito possibilidades – como fontes de compensação e querendo o aumento do tributo como fonte de compensação, que é o ponto da nossa discórdia.”

“E nós precisamos sentar para tentar resolver, que é o aumento de 1% sobre a contribuição social sobre o lucro líquido (CSSL) de todo o setor produtivo inclusive, que me parece, para os fins da desoneração, desnecessário e não há receptividade política para isso. Ignorar o potencial de arrecadação positiva, sustentável, bem aceita pelo contribuinte, que representa um programa de repatriação de recursos do exterior, de regularização de ativos nacionais, de atualização de valores de ativos nacionais, um programa de Desenrola de pagamento de multas em agências reguladoras, de dinheiro esquecido no sistema financeiro nacional, de depósito judiciais sem titularização, a própria aposta esportiva que foi aprovada por iniciativa do Executivo junto ao Congresso Nacional, cuja receita pode fazer frente a desoneração, a taxação das blusinhas, que foi tão decantada, cuja receita também pode servir para fazer frente a compensação. Então, por que ignorar essas medidas e querer o puro e simples aumento do CSSL?”, questionou o senador.

Segundo Pacheco, é necessário uma conversa “politicamente adequada, entre nós (governo e Congresso) e sem buscar botar o projeto de um Poder em detrimento de outro, não é esse o caminho”.

Randolfe admitiu na quinta (11) que a taxação de 1% sobre a CSSL está sendo estudada pelo governo e que ainda não havia observado “rejeição dos bancos em relação à CSSL”. Segundo o líder governista no Congresso, caso o pacote de medidas propostas pelo Senado e o corte de despesas do governo não forem capazes de compensar a desoneração, a tributação será a última opção.

A Fazenda estima que o impacto da medida neste ano é de R$ 17 bilhões a R$ 18 bilhões. Antes, a projeção era de R$ 26,3 bilhões, sendo R$ 10,5 bilhões com municípios e R$ 15,8 bilhões com os 17 setores produtivos.

Pelos cálculos da pasta e da Receita, como explicou Randolfe, as alternativas do Senado ainda seriam insuficientes para fazer frente à desoneração. “O esforço está concentrado em encontrar fontes de receitas que cubram a despesa”, declarou.

Ele disse ainda “suspeitar” que, mesmo que o acordo seja votado pela Casa Alta na última semana antes do recesso, que começa no dia 18 de julho, a resolução será empurrada para agosto, uma vez que após a aprovação, seguirá para a Câmara dos Deputados.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

Haddad diz que inclusão da carne na cesta básica zerada é vitória de Lula

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve uma vitória muito importante com o acréscimo da carne na cesta básica zerada. As propostas da Fazenda e do grupo de trabalho da Câmara não contemplavam essa inclusão, que foi defendida sobretudo pela bancada do agronegócio. Um acordo durante a votação, incluindo a oposição, é que permitiu a medida.

“O presidente Lula teve sua vitória ontem, que é muito importante. O presidente Lula tinha feito manifestação pública de que a carne tinha de estar na cesta básica, porque, afinal de contas, o aceso à proteína animal tem de ser garantido a todos os brasileiros”, disse o ministro, em vídeo divulgado nas suas redes sociais e da primeira-dama, Janja Lula da Silva.

Haddad disse que a medida foi viabilizada no Congresso por um acordo de liderança que envolveu todos os partidos. “Mesmo o PL, que votou contra a reforma tributária. Eles estão fazendo uma campanha contra a reforma numa linha de retrocesso e não modernidade. Conseguimos vencer a oposição e colocamos a carne na cesta básica”, disse o ministro no vídeo.

Quando o relator do projeto, Reginaldo Lopes (PT-MG), anunciou que acataria a inclusão da carne no parecer, o texto já havia sido votado e aprovado. Os parlamentares analisavam os destaques – emendas feitas no plenário que promovem alterações ao texto. Foi justamente o PL que sugeriu esse destaque para inclusão das carnes na cesta básica.

Haddad ainda disse que o resultado da votação foi “espetacular”. “O Brasil teve um dia de glória ontem, um dia importantíssimo para a economia, não só do ponto de vista de desenvolvimento mas de justiça tributária, porque o pobre no Brasil é quem mais paga imposto proporcionalmente à renda e essa reforma começa a correção da injustiça histórica”, afirmou.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

Indústria do livro quer garantir imunidade com recuperação de créditos na reforma tributária

Na véspera da votação da regulamentação da reforma tributária na Câmara dos Deputados, a indústria do livro busca apoio de lideranças dos partidos para garantir a recuperação de créditos no projeto analisado.

A emenda constitucional da reforma tributária preservou a imunidade dos livros, mas o setor diz que, sem a recuperação de créditos, haverá um aumento de custo de 16% no país, com impacto no preço final do livro ao consumidor.

O fim da imunidade já foi polêmica no governo Jair Bolsonaro (PL), quando o então ministro da Economia, Paulo Guedes, enviou um projeto de reforma tributária ao Congresso que acabava com o benefício tributário para os livros, mas mantinha para igrejas, sindicatos, partidos políticos, entidades beneficentes e condomínios.

A decisão teve forte reação na época, principalmente porque num documento oficial a Receita Federal justificou a decisão de pôr fim ao incentivo com o argumento de que os livros são consumidos pela faixa mais rica da população (acima de dez salários mínimos) e que, com a arrecadação a mais, o governo poderia “focalizar” em outras políticas públicas, como ocorre em medicamentos, na área de saúde, e em educação.

A proposta de Guedes não avançou, mas a polêmica voltou ao centro do debate na Câmara porque os representantes do setor alegam que a decisão de assegurar a imunidade do livro corre o risco de não gerar os impactos sociais esperados em função do texto do projeto de regulamentação.

Em manifesto, quatro entidades do setor alertam que o impacto negativo, se mantido o texto da regulamentação, também afetará as compras públicas de livros, como é o caso do Programa Nacional do Livro Didático, que atende mais de 30 milhões de alunos.

Hoje os livros não têm nenhuma carga tributária (imunidade de impostos e alíquota zero de Pis/Cofins). As empresas do setor mantêm créditos sobre operações feitas na etapas anteriores da cadeia produtiva, o que reduz o custo final dos livros.

“A reforma tributária preservou a imunidade dos livros frente a IBS e CBS, mas o projeto não garante a manutenção dos créditos para operações anteriores, o que contraria a lógica de desoneração da cadeia produtiva do livro”, afirma o manifesto.

O documento é assinado pela CBL (Câmara Brasileira do Livro), Abrelivros (Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais), Abraspe (Associação Brasileira de Sistemas e Plataformas de Educacionais) e Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros).

As entidades do setor do livro defendem que o tratamento atual seja mantido na regulamentação da reforma tributária. “Sem isso, os custos tributários sobre insumos adquiridos pelas empresas do setor aumentarão, elevando o preço dos livros e impactando negativamente a educação, cultura e difusão do conhecimento”, afirmam as quatro entidades.

Representantes das entidades estão fazendo uma corpo a corpo junto aos deputados para garantir a alteração no texto. A mobilização também está sendo feita no governo. Eles alertam que a neutralidade tributária do livro cairá por terra se a alteração não for feita e que os orçamentos de educação não serão recompostos em 16%.

De acordo com as quatro entidades, o maior comprador de livros do Brasil é o setor público (governo federal, estados e municípios), que acabaria sendo prejudicado com o aumento.

A previsão de parlamentares é que ao menos o primeiro projeto da regulamentação da tributária seja votado no plenário da Câmara nesta quarta-feira (10). O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), editou ato da presidência para suspender a atividade das comissões temáticas, para que haja um esforço concentrado na análise da proposta.

Folha Mercado

Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes.

Carregando…

LGBTQIA+: Confira o ranking inédito das empresas TOP 10 realizado pelo Integridade ESG

Levantamento do noticiário brasileiro sobre as agendas inclusivas das maiores companhias brasileiras mostra Natura em primeiro lugar, seguida por Dasa, TIM, Mercado Livre e Banco do Brasil

Levantamento do noticiário brasileiro sobre as atividades das 100 maiores empresas brasileiras associadas à agenda da inclusão LGBTQIA+, realizado pelo Integridade ESG, mostrou que os setores de cosméticos, de saúde, de tecnologia, bancário e o de telefonia estão na frente. A pesquisa se refere ao ano de 2023 e mapeou as notícias publicadas em 550 veículos, ao longo desse período. O top 5 do ranking, iniciando-se pela empresa com maior pontuação, é constituído por Natura, DasaMercado LivreBanco do Brasil e TIM.

Para Kaká Rodrigues, cofundadora da consultoria Div.A Diversidade Agora!, os segmentos que lideram o ranking refletem uma diversidade de abordagens e estratégias para promover a inclusão LGBTQIA+.

“São todas empresas referências, não apenas no seu setor, e com grande potencial de liderar uma retomada nas ações e investimentos em DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão), arrefecidos nos últimos anos”, avalia.

Com uma estratégia marcada por campanhas veiculadas nas redes, retratando casais homossexuais, a Natura lidera a lista com posição consolidada ao longo dos últimos anos. Ao enfrentar numerosas críticas e fortes protestos contra seus posicionamentos, desde 2019, teve sua marca reforçada junto a esse público. Exemplo foi a reação à campanha de lançamento da linha #ColeçãoDoAmor (2019), quando a hashtag #BoicoteNatura ficou entre os Trending Topics das redes. Outra estratégia da líder de cosméticos é lançar embalagens e portfólio pensando em todos os gêneros, aliando o produto em si à campanha midiática pela inclusão.

Já a rede de diagnósticos Dasa aparece como segunda colocada no ranking LGBTQ com uma estratégia focada no âmbito corporativo, marcando presença em editorias e veículos ligados a economia e negócios. Como área dedicada a medidas de diversidade e inclusão, que inclui diversidade LGBTQIAP+, também possui comitê específico e grupos de afinidade, que estimulam e apoiam iniciativas internas, engajando as lideranças em torno do tema. A Dasa também compõe frentes, como o Fórum de Empresas e Direitos LGBTQIAP+ e a Rede Empresarial de Inclusão Social. Nas redes, o grupo investe fortemente em posicionamento pela diversidade no LinkedIn.

“A liderança da Natura não é surpreendente, dado seu histórico de campanhas inclusivas e inovadoras. A empresa tem sido consistente em suas ações, enfrentando críticas e mantendo seu posicionamento firme, o que reforça sua credibilidade e compromisso com a causa. A presença da Dasa em segundo lugar pode ser uma surpresa para alguns, dado que o setor de diagnósticos não é tradicionalmente associado a campanhas de visibilidade LGBTQIA+. No entanto, isso mostra que a inclusão pode e deve ser promovida em todos os setores”, afirma Rodrigues.

Mercado Livre aposta em artista de renome, enquanto BB retoma sua agenda inclusiva com força

O maior e-commerce da América Latina, o Mercado Livre, por sua vez, terceiro colocado no ranking LGBTQIA+, não se limita às ações afirmativas no ambiente virtual. Além de realizar campanhas em formato digital, patrocina diretamente paradas do orgulho gay, com apoio a trio elétrico que leva seu nome. A marca também promoveu, no mundo real, a iniciativa Loja do Orgulho, em parceria com marcas comprometidas na causa. Uma de suas campanhas, a Mais uma Voz, traz a participação de artistas de renome, como Pablo Vittar, aumentando o engajamento em torno do tema.

Entre os bancos, o destaque ficou por conta do Banco do Brasil, que, em 2023, retomou o investimento nas ações ligadas à causa, após quatro anos de distanciamento, e empossou sua primeira presidente mulher e assumidamente LGBT, Tarciana Medeiros. Entre suas iniciativas recentes, estão a criação da campanha “LGBTQIA+ Cidadania”, juntamente com o Governo Federal, o patrocínio a paradas LGBT, o lançamento de um cartão para clientes trans e a criação de um Conselho Consultivo de Diversidade, Equidade e Inclusão.

Já a operadora de telefonia TIM aposta suas fichas na cultura, no ambiente digital e na própria logo, que ganhou novos elementos com as bandeiras do movimento ao longo de campanhas, lançadas em aplicativos de música para telefones celulares.  A empresa de origem italiana ainda lançou um app especialmente criado para reunir vagas de emprego voltadas para profissionais LGBTI+. Patrocinadora de paradas gay, a Tim muda sua marca a cada edição, como símbolo de empresa inclusiva.

Inclusão deve ser acompanhada do compromisso da liderança para ser genuína

Na visão de Kaká Rodrigues, a visibilidade midiática e as ações corporativas em prol da inclusão LGBTQIA+ são sinais positivos de progresso.

“No entanto, é importante que essas iniciativas sejam acompanhadas de planejamento estratégico de DEI, políticas internas robustas e de um compromisso genuíno – especialmente da liderança – com a diversidade e a inclusão”. Ela aponta a continuidade e a autenticidade dessas ações como fatores essenciais para que a inclusão se torne uma realidade duradoura e não apenas uma jogada de marketing.

Por fim, Rodrigues defende como ponto fundamental para avançar nessa temática que as empresas continuem a ouvir e a envolver a comunidade LGBTQIA+ em suas decisões e campanhas, garantindo que suas ações sejam representativas e impactantes.

 “A colaboração com organizações e lideranças da comunidade pode fortalecer ainda mais essas iniciativas, promovendo um ambiente de respeito e igualdade para todas as pessoas”, ressalta Rodrigues.

Diversidade é relevante para a saúde mental dos colaboradores

“A agenda de diversidade, equidade inclusão e a pauta LGBTQIA+ é tema altamente relevante para a saúde mental, uma vez que um ambiente diverso e inclusivo é elemento básico para a constituição da segurança psicológica”, explica o CEO do Instituto Philos OrgCarlos Assis. Segundo ele, tal condição se estabelece na dinâmica das relações.

“Ela se dá quando os membros de uma equipe são acolhidos e sentem que não serão punidos, humilhados ou preteridos por serem o que quiserem ser, no exercício de sua liberdade existencial”, resume Assis.

Em seus estudos sobre as melhores práticas na promoção da Saúde Mental nas maiores empresas do Brasil, Assis diz ter notado que a agenda de diversidade, equidade, inclusão e a pauta LGBTQIA+ têm sido cada vez mais valorizados. No entanto, ele avalia que as ações das empresas, em sua maioria, têm se limitado a campanhas de comunicação e adoção de grupos de afinidade e que ainda há muito a ser feito.

“A segurança psicológica depende da cultura organizacional e da atitude das lideranças. Acredito que devemos ampliar o pensamento destes líderes por meio de programas de formação que possam inspirá-los de dentro para fora, utilizando conceitos da Psicologia, da Filosofia e da Arte. É preciso criar um ambiente onde as pessoas possam realmente ser o que quiserem ser, evitando vieses inconscientes e desenvolvendo a cultura organizacional”, afirma Assis.

Fonte: Integridade ESG

Lula esperou disputa sobre dividendos da Petrobras esfriar para demitir Prates; leia bastidores

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comunicou ao presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, sua demissão do comando da estatal em uma conversa no fim da tarde de ontem no Palácio do Planalto.

A decisão já estava tomada há dias e foi comunicada a Prates numa reunião convocada por Lula e na qual também estavam presentes os ministros da Casa Civil, Rui Costa, e de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

Costa e Silveira se aliaram contra Prates no comando da estatal. O argumento usado é o de que Prates não estaria entregando resultados da Petrobras na velocidade em que o governo esperava.

A demissão ocorreu pouco mais de um mês após Prates entrar em rota de colisão com uma ala do governo na crise dos dividendos, a respeito do valor dos ganhos que seria distribuído aos acionistas. E um dia após a petroleira divulgar o resultado do primeiro trimestre, quando o lucro caiu 38%.

Prates defendia a proposta da diretoria de distribuir aos acionistas 50% dos recursos que sobraram no caixa após o pagamento dos dividendos regulares — R$ 43,9 bilhões. Já o grupo de Silveira e Costa defendia segurar todo o dinheiro em um fundo de reserva para melhorar as condições da empresa de obter empréstimos para investimentos. Lula arbitrou a disputa e determinou que os conselheiros indicados pela União votassem contra o pagamento. Depois, a Petrobras acabou aprovando o pagamento com aval de Lula.

Durante o auge dessa crise, Prates pediu uma reunião com Lula — e essa conversa aconteceu ontem.

De acordo com auxiliares, Lula decidiu pela demissão por ver problemas na gestão de Prates à frente da Petrobras. A saída vinha sendo cogitada desde o início de abril. Mas a avaliação interna é que o presidente da República prefere, em muitos casos, deixar o assunto esfriar antes de tomar uma decisão. Por isso, postergou por mais um mês a permanência de Prates no cargo. Assim, Lula deixou a crise esfriar para anunciar sua decisão.

Antes de demitir Prates, Lula conversou, nas últimas três semanas, sobre o futuro da Petrobras com Sergio Gabrielli, que comandou a estatal entre 2005 e 2012, nos dois primeiros mandatos de Lula, e com a ex-presidente Dilma Rousseff.

Mercadante foi cogitado

Em abril, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, chegou a ser cogitado como um possível substituto de Prates à frente da Petrobras, mas Lula optou por um outro nome, Magda Chambriard. Ela já havia sido considerada para o cargo durante a transição, em 2022, mas o nome de Prates acabou prevalecendo.

Após ser comunicado da decisão, Prates, avisou aos diretores da petroleira de sua demissão por meio de uma mensagem nesta segunda-feira. Nela, ele diz que o presidente pediu seu cargo e que, com isso, sua missão foi “precocemente abreviada na presença regozijada de Alexandre Silveira e Rui Costa”.

Os ministros de Minas e Energia e da Casa Civil haviam se tornado rivais de Prates no governo e advogavam pela troca no comando da estatal.

Mas no Planalto, a constatação era que também havia um conflito conceitual entre o que o Lula defende para a estatal e o modelo que estava sendo implantado por Prates na companhia.

O presidente da República é favorável a ampliar os investimentos em infraestrutura, como parques de refino e na indústria naval, e critica o que considera uma lógica de focar em apenas resultados financeiros positivos para a empresa. Outra área em que ele defende aportes é a fabricação de fertilizantes.

Petrobras: lucro líquido no 1º trimestre cai 37,9% para R$ 23,7 bilhões

A Petrobras fechou o primeiro trimestre de 2024 com lucro líquido de R$ 23,7 bilhões, 37,9% a menos do que há um ano, e 23,7% inferior ao registrado no trimestre imediatamente anterior, segundo informou a companhia à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nesta segunda-feira, 13.

A receita de vendas no período caiu 15,4%, para R$ 117,72 bilhões, frente ao primeiro trimestre de 2023, e caiu 12,3% em relação ao quarto trimestre.

Já o Ebitda, que mede a capacidade de geração de caixa da companhia, ficou em R$ 60 bilhões no primeiro trimestre de 2024, queda de 17,2% contra igual período de 2023, e recuo de 10,2% em relação ao quarto trimestre de 2023.

A dívida líquida da empresa subiu para US$ 43,64 bilhões, valor 16,1% superior ao registrado no primeiro trimestre de 2023, mas 2,4% menor do que o registrado ao fim do quarto trimestre do ano passado.

Já os investimentos do trimestre em questão subiram 22,6% ante o mesmo período de 2023 e caíram 14,5% ante o trimestre imediatamente anterior, para US$ 3 bilhões.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

Genial/Quaest: para 55% da população, Lula não merece ser reeleito em 2026

A primeira edição da pesquisa Genial/Quaest sobre a eleição presidencial de 2026 mostra que, se a eleição fosse hoje, 55% da população não daria nova chance ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Enquanto isso, 42% apoiam a reeleição do petista e os 3% restantes, não sabem ou não responderam, de acordo com o levantamento divulgado nesta segunda-feira (13/5).

Dados da pesquisa Genial/Quaest

A pesquisa mostra que 47% dos eleitores poderiam votar para reeleger Lula, mas 49% rejeitam o atual chefe do Executivo. E, assim como na eleição de 2022, Lula tem maior apoio no Nordeste, onde o percentual dos entrevistados que dariam nova chance ao petista é de 60%. Entre os mais pobres, o atual presidente mantém a popularidade, pois entre os que ganham até dois salários mínimos 54% votariam no petista contra 43% que responderam o contrário. E, entre os que estudaram até o Ensino Fundamental, 54% disseram que votariam em Lula.

Dados da pesquisa Genial/Quaest

No grupo das mulheres, que tradicionalmente apoia o petista, a maioria — 52% — são contra a reeleição do presidente, opinião compartilhada por 23% dos que lhe deram voto no segundo turno de 2022, segundo a pesquisa da Quaest em parceria com a Genial Investimentos.

“Embora ainda esteja distante, a eleição de 2026 já começa a se desenhar. Lula terá que ganhar a confiança da maioria para merecer mais uma chance. Os nomes da oposição trabalham para ganhar conhecimento”, destacou o cientista político Felipe Nunes, diretor e fundador da Quaest.

Conforme os dados da pesquisa, entre os candidatos elegíveis da oposição, já que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi confirmado inelegível, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) é apontada como o nome mais indicado para enfrentar Lula por 28% dos eleitores entrevistados. Contudo, ela tem rejeição bastante elevada do eleitorado, de 50%.

Dados da pesquisa Genial/Quaest

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem 24% da preferência e 30% de rejeição. Em um eventual segundo turno entre Lula e Tarcisio, o petista venceria o governador paulista em 2026 com placar de 46% contra 40%, apesar de perder em três grupos regionais. Lula venceria no Nordeste com 66% contra 25% do candidato bolsonarista. Na região Sudeste, Tarcísio Freitas venceria por 45% a 39%; e, na região Sul, o candidato bolsonarista teria uma vantagem de 46% a 41%. E, no grupo regional Centro-Oeste/Norte, o placar favorável a Tarcísio seria de 43% a 40%.

Outros três governadores que disputam a herança eleitoral de Bolsonaro aparecem bem atrás de Tarcísio de Freitas. Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, tem 10% das intenções de votos dos entrevistados; Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, tem 7%; e Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, 5%. Pouco mais de um quarto do eleitorado (26%) não sabem ou não responderam.

Dados da pesquisa Genial/Quaest

De acordo com a Quaest, outros nomes do PT têm potencial baixo de votos. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem 32% da preferência dos eleitores. E a presidente da legenda, a deputada Gleisi Hoffmann (PR), apenas 10% da intenção de voto.

A pesquisa foi realizada entre os dias 2 e 6 de maio, entrevistando presencialmente 2.045 eleitores em todos os estados. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.

” name=”Botão para direita” aria-label=”Botão para direita”>

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

O que é a lei das consequências imprevistas (e por que ela é tão importante agora)

Quando surgiram as primeiras redes sociais, seus pioneiros tinham a ilusão de que estavam criando um espaço para que as pessoas e as comunidades se conectassem.

Mas eles logo perceberam que nem todos os intercâmbios seriam de gentileza – o que não era totalmente inesperado, considerando a natureza humana.

O que eles dificilmente teriam previsto é que, em poucos anos, as redes sociais se tornariam ferramentas sofisticadas para conduzir o curso da democracia em direção a uma ou outra tendência.

Também não se previa que governantes poderiam usá-las como escudo, alegando que se comunicam diretamente com o público por esses meios, mas negando a eles o direito de questioná-los.

Toda inovação, em qualquer campo do conhecimento, traz consigo consequências imprevistas – algumas positivas, outras negativas e, muitas delas, surpreendentes.

Observadores sociais de diferentes especialidades vêm observando esse fenômeno desde a Antiguidade.

Na Grécia Antiga, por exemplo, o filósofo Platão apresentou uma bela ilustração no seu diálogo Fedro.

Nele, Sócrates conta que, quando o deus egípcio Toth – inventor da escrita, entre outras coisas – foi mostrar suas obras ao rei Tamuz, o soberano pediu que ele explicasse a utilidade de cada uma delas.

“Quando chegaram à escrita, Toth disse: ‘oh, rei! Esta invenção tornará os egípcios mais sábios e auxiliará sua memória; descobri um remédio contra a dificuldade de aprender e memorizar.'”

O rei respondeu que o gênio inventor não era o melhor juiz. E, em relação à escrita, ele atribuía “exatamente o contrário dos seus verdadeiros efeitos”.

“Ela só produzirá o esquecimento nas almas dos que a conhecerem, fazendo com que eles desprezem suas lembranças; eles confiarão nos escritos externos e não se recordarão por si próprios.”

“O que você descobriu não é um auxílio para a memória, mas para a reminiscência; e não fornece aos seus discípulos a verdade, mas apenas a aparência da verdade. Eles serão ouvintes de muitas coisas e não terão aprendido nada; parecerão oniscientes e geralmente não saberão nada; serão uma companhia tediosa, com aparência de sabedoria, mas sem a realidade”, concluiu o rei.

Para Platão, o verdadeiro saber é obtido pelo diálogo socrático – a busca de respostas pelo esforço de reflexão e raciocínio.

Você pode não concordar com a opinião do filósofo grego sobre a escrita, mas o relato demonstra como as tecnologias – até as mais reconhecidas – podem trazer consequências imprevistas.

Considerado o pai da economia moderna, o filósofo escocês Adam Smith (1723-1790) deu a uma das mais famosas dessas consequências o nome de “mão invisível”.

Ele defendia que cada indivíduo que busca apenas o seu próprio benefício “é conduzido por uma mão invisível para promover um fim que não era parte da sua intenção”, trazendo benefícios para todos.

Diversos pensadores escreveram sobre o que agora se conhece por “lei das consequências não antecipadas”. Mas foi o sociólogo norte-americano Robert K. Merton (1910-2003) que publicou a primeira análise deste conceito, em 1936.

Da bicicleta até Karl Marx

No seu conceituado artigo The Unanticipated Consequences of Purposive Social Action (“As consequências imprevistas da ação social propositada”, em tradução livre), Merton começa indicando que, até aquele momento, não existia nenhuma análise científica sistemática deste tema.

Ele imaginava que o motivo talvez fosse porque, durante a maior parte da história humana, o inesperado foi atribuído “aos deuses”, “ao destino” ou à interferência divina. E que, com a chegada da Era da Razão, o ser humano começava a acreditar que poderia entender a vida.

Merton identificou no seu estudo cinco causas principais das consequências inesperadas. A primeira é o desconhecimento: como elas são imprevistas, por mais que se quisesse, teria sido muito difícil adivinhar, em alguns casos, o que aconteceria em seguida.

Os responsáveis pelo desenvolvimento da bicicleta moderna entre as décadas de 1880 e 1890, por exemplo, não planejavam criar um veículo de liberação feminina. E eles não só impulsionaram a adoção de “roupas racionais”, como tiveram profundo impacto sobre os direitos e papéis das mulheres na sociedade.

“Deixe-me dizer a você o que penso sobre andar de bicicleta”, disse a sufragista americana Susan B. Anthony (1820-1906), em 1896.

“Acredito que ela tenha feito mais pela emancipação das mulheres do que qualquer outra coisa do mundo. Ela fornece à mulher uma sensação de liberdade e autossuficiência. Faz com que ela se sinta como se fosse independente (…) e siga adiante, a imagem de uma feminilidade livre e sem restrições.”

Diversos outros exemplos como este demonstram que “a limitação mais óbvia para a correta antecipação das consequências de uma ação é proporcionada pelo estado de conhecimento existente”, como escreveu Merton.

Este e outros fatores, às vezes, levam algumas pessoas a “defender o argumento que diz ‘se soubéssemos, teríamos sabido'”, acrescentou ele.

A segunda causa principal é o erro. Às vezes, a análise falha – ou as pessoas repetem, em situações novas, ações que tiveram sucesso no passado, sem que elas sejam repensadas.

O terceiro motivo é o imperioso imediatismo do interesse, que leva as pessoas a desconsiderar as consequências de longo prazo. Sua preocupação primordial é com os efeitos imediatos previstos.

A quarta causa é “aparentemente similar ao fator do imediatismo”, mas significativamente diferente. São os valores básicos, que podem nos levar a agir segundo crenças fundamentais, sem considerar as consequências.

Merton mencionou o caso da ética protestante e do espírito do capitalismo para ilustrar este ponto. As normas morais protestantes do trabalho duro e da renúncia ao prazer “conduzem paradoxalmente à sua própria decadência, pelo acúmulo de riqueza e bens materiais”.

Por fim, uma causa que parece esotérica é a profecia autodestrutiva. Nela, as pessoas deixam de agir por medo das consequências negativas e imprevistas, ou surge um alerta sobre um problema futuro, que faz com que ele não aconteça.

“Para mencionar um exemplo social concreto”, segundo Merton, “a previsão de [Karl] Marx [1818-1883] sobre a progressiva concentração de riqueza e a crescente miséria das massas influenciou o próprio processo previsto.”

“Pelo menos uma das consequências da pregação socialista do século 19 foi a expansão da organização do trabalho, que […] diminuiu, quando não eliminou, os acontecimentos previstos por Marx.”

No seu livro The Logic of Chance (“A lógica do azar”, em tradução livre), o matemático e filósofo inglês John Venn (1834-1923) usou a pitoresca expressão “profecias suicidas” para se referir a esta quinta causa principal das consequências imprevistas.

Com o passar do tempo, outros pensadores acrescentaram novas razões, como o economista americano Kenneth Arrow (1921-2017), que advertiu: “a maioria das pessoas subestima a incerteza do mundo”.

Merton classificou ainda outros três tipos de consequências imprevistas:

Por que isso agora é tão importante?

Porque estamos no limiar de uma nova fase para a humanidade, que provavelmente será uma das mais importantes de todas.

O rápido surgimento de uma nova geração de sistemas de inteligência artificial que podem emitir julgamentos e decisões, gerando novas ideias, é um dos maiores desafios da sociedade atual.

A inteligência artificial é um enorme salto para o desconhecido em diferentes áreas das nossas vidas, da saúde à educação, do exército ao direito, das artes ao transporte. Ela irá mudar nossas vidas de formas que ainda não podemos imaginar.

Mas não podemos nos dar ao luxo de ignorar a IA. E, por trás da emoção e do entusiasmo pelas suas inovações, existem perguntas fundamentais que precisamos fazer a nós mesmos, aos líderes da tecnologia e aos nossos governantes.

“Quando o assunto é IA, muitas pessoas a observam como algo mágico – ou pensam que irá haver uma batalha iminente entre os seres humanos e os robôs, com um tipo de pergunta que parece ser de ficção científica: ‘podemos confiar em um robô?'”, declarou o professor Jack Stilgoe, do University College de Londres, à série de programas The Trust Shift, da BBC Rádio 4.

Stilgoe participa de um novo e imenso programa de pesquisa no Reino Unido, chamado IA Responsável (RAI, na sigla em inglês).

“Como cientista social, quero chamar a atenção para o fato de que, na verdade, não é questão de confiar em um robô, mas de confiar nas pessoas por trás da tecnologia”, explica o professor.

São esses empresários e inovadores da IA que têm o poder de alterar radicalmente o nosso futuro. Mas somos nós, em maior ou menor medida, que devemos participar das decisões que precisam ser tomadas hoje.

Os sistemas de inteligência artificial são treinados com grandes quantidades de informações. Eles aprendem a identificar os padrões contidos para realizar tarefas.

Suas aplicações parecem infinitas. A inteligência artificial já está ajudando os médicos a detectar câncer de mama e as redes sociais a decidir qual conteúdo devem nos mostrar ou quais produtos nos recomendar, por exemplo.

Mas o que observamos até agora é a ponta do iceberg. E, a cada passo dado, não se evidenciam apenas as maravilhas, mas também os seus perigos e a dificuldade de combatê-los.

A IA generativa, por exemplo, como o ChatGPT e o DALL-E, gera textos ou imagens que parecem ser criados por seres humanos. Ela tem uma verdadeira legião de adeptos.

Mas, entre eles, existem os criadores de conteúdo de abuso sexual infantil, que multiplicam seus lucros, sem que as autoridades possam fazer muita coisa a respeito.

Seria esta uma consequência imprevista? Talvez, mas a pergunta é de qual tipo. Se for por erro ou pela imperiosa necessidade do interesse, são motivos difíceis de ignorar.

Por isso, embora os recentes avanços de IA tenham sido aclamados como revolucionários, até mesmo personalidades importantes do setor, como Elon Musk, vêm defendendo uma pausa no seu desenvolvimento.

Temores similares levaram dois dos três cientistas conhecidos como pais da IA pelas suas pesquisas pioneiras – Geoffrey Hinton e Yoshua Bengio – a se pronunciar neste sentido.

Como pesquisador da RAI, Stilgoe estuda como dar forma ao desenvolvimento da IA em benefício das pessoas, das comunidades e da sociedade. E sua preocupação é “o interesse dos desenvolvedores da tecnologia em não antecipar as consequências”.

No seu afã de monetizar suas criações, “os profissionais de IA desenvolvem seus sistemas e os lançam. Depois, a sociedade fica a cargo de pesquisar quais são as consequências e como lidar com elas.”

“Existe uma assimetria imensa, pois deixamos os inovadores livres de responsabilidade”, explica o professor.

Stilgoe afirma que existem casos em que a IA claramente traz benefícios. Mas o cientista social é da opinião que o desenvolvimento deve ocorrer no contexto de instituições confiáveis, que tenham interesse “não apenas pelo que é bom para um indivíduo, mas para a sociedade em geral”.

Agindo desta forma, a IA poderá ser “não apenas eficaz, mas também justa”.

Mas, como Platão nos advertiu sobre a escrita, qualquer tecnologia apresenta suas dificuldades, por mais maravilhosa que seja.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram