O secretário estadual de Segurança Pública do Rio, Victor Santos, disse, nesta quarta-feira, que as facções criminosas que agem no Rio “aprenderam com a milícia” a fortalecer seu braço financeiro com a exploração de serviços como internet, água, luz, gás, transporte e construção civil. Alvo de uma operação, traficantes do Terceiro Comando Puro (TCP) do Complexo da Maré, na Zona Norte da capital, têm até mesmo um “banco paralelo” para oferecer empréstimos a moradores. O grupo criminoso, que tem ligação com bandidos do Espírito Santo, movimentou em um ano R$ 43 milhões.
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“Uma facção criminosa, nascida no Rio de Janeiro, já passou o território do Rio, avançou no Espírito Santo e outros estados. E muitos fazem uma pergunta de: é o tráfico de drogas? Não. Então, hoje, essas organizações criminosas exploram todo e qualquer tipo de serviço. Até porque, se a gente imaginar o consumo de drogas, não tem uma quantidade muito grande de pessoas. Mas serviços, isso abrange um número muito maior de pessoas. Então, esse é o grande objetivo dessa operação de hoje: desarticular a estrutura financeira dessa quadrilha e imaginar que esse é apenas um braço, apenas um núcleo”, disse Santos ao Bom Dia Rio, da TV Globo.
Ele destacou que as demais facções agem da mesma forma, conforme uma tática desenvolvida por grupos paramilitares:
“A milícia, no passado, fazia exatamente isso. Extorquia dinheiro de pessoas, extorquia dinheiro de moradores, e a gente vê a luta pelo território. É exatamente isso, porque território é sinônimo de receita”.
Sobre os moradores de locais onde ocorrem operações como a desta quarta, Santos disse que entende a preocupação da população com possíveis confrontos.
“Todo planejamento de uma operação, ela visa a resguardar vidas, vidas do policial, vidas das pessoas que moram na comunidade. Ninguém quer estar em meio a um tiroteio. A população tem que entender que existe um plano de segurança para o Rio de Janeiro, só que não existe uma bala de prata, não existe uma única ação que vai melhorar de uma hora para a outra essa questão da segurança pública do Rio de Janeiro. Nós temos um problema que é complexo. Passa por desordem urbana, passa por autoridades que não se falam. Hoje, o plano de segurança pública do Rio de Janeiro, prevê ações imediatas e outras de médio e longo prazo”, afirmou.
O secretário frisou que a integração entre os estados é uma medida importante:
“A integração entre os entes federativos, municípios, Estado e União, tudo isso está sendo feito. Só que o resultado não vem de imediato. A gente vê que a capacidade bélica, a capacidade dessas organizações comunas de comprar arma, de ter muita munição, de ter arma pesada, armas de guerra, é exatamente porque elas têm capacidade financeira. Então a gente entende que essa questão de luta para buscar a estrutura financeira dessas organizações, entender a economia do crime vai fazer com que a gente consiga libertar o Rio de Janeiro e devolver o estado às pessoas de bem”.
De acordo com Santos, quando o tráfico domina um território, ele impõe aos moradores suas regras.
“O domínio do território faz com que eles subjuguem a população, impondo a eles que serviço comprar, que religião eles têm que ter fé e assim por diante. Isso é uma questão que a gente vê no Rio”, disse.
Sobre o “banco paralelo” operado por traficantes do TCP na Maé, o secretário explicou que ele existe para fazer empréstimos informais:
“Todo dinheiro captado, o que eles fazem?Vão coletando pessoas que obviamente têm dificuldades financeiras e empresta aquele dinheiro, entre aspas, fácil. Porque não existe tantos comprovantes de renda, de capacidade financeira para pagar. Só que quem é que vai ficar devendo ao crime? Então a inadimplência é muito pequena. Então eles vão captando isso, ou seja, mais uma forma de subjugar a população ao crime”.
De acordo com Santos, os moradores são obrigados a fazer os empréstimos por meio do “banco paralelo”.
“É mais uma imposição do criminoso para a população. Olha, vem aqui, eu te empresto o dinheiro muito fácil, você me paga uns juros aqui, mas você não precisa me dar garantia de nada”, afirmou.
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