Ter um “negócio da China” costuma ser apenas uma expressão. Não é o caso dos empreendedores (e irmãos) Bruno e Rodrigo Affonso: eles criaram no Brasil uma rede de lojas que vende bicicletas elétricas, comuns no país de mais de um bilhão de habitantes. O empreendimento, chamado Lev, já tem quase sete anos de vida e deu tão certo que faturou 10 milhões de reais no ano passado.
Tudo começou em 2007, quando Bruno Affonso foi para a China em uma viagem de trabalho: ele era contratado por uma empresa de GPS e rastreamento para relatar novidades no setor. Ao mesmo tempo, fazia aulas de mandarim pela manhã.
Para ir de um lugar ao outro, descobriu que a melhor alternativa era a bicicleta elétrica. “Eu achava um meio de transporte incrível. Não precisei passar pelo trâmite de tirar uma habilitação, não tinha gastos com gasolina, andava nas ciclovias e carregava a bateria em casa mesmo”, conta Bruno. Segundo a empresa, há mais de 100 milhões de bicicletas elétricas apenas na China.
O interesse foi tanto que, após quatro meses no país, ele se desligou da empresa em que trabalhava para pesquisar o meio de transporte com mais afinco. “Todo dia saía da aula de mandarim e ia para lojas de bicicletas elétricas, vendo como acontecia a venda e a manutenção, pensando se isso se encaixaria na realidade brasileira”, diz o empreendedor.
Ele tentou convencer amigos estrangeiros a comprarem o meio de transporte, como um teste. “Eles tinham dinheiro para comprar – entre 250 a 300 dólares, na época -, mas não se interessavam até então. Percebi como era fácil fazer alguém gostar do produto a ponto de comprá-lo. Ou seja, a aceitação era incrível.”
Depois da experiência em lojas e com o público do exterior, ele decidiu buscar uma fábrica com que pudesse ter um bom relacionamento. Toda essa fase de investigação durou um ano. “Depois, fiquei quase dois anos desenvolvendo o produto e criando marca e comunicação. A ideia era replicar no Brasil o que vi na China: uma loja física de bicicletas elétricas, que oferece a manutenção como pós-venda”, diz Bruno. “Até aquele momento, quem importava bicicletas elétricas no Brasil eram mais os aventureiros. Não havia um suporte adequado ao cliente.”
No final de 2009, o primeiro contêiner com as peças desenvolvidas por Bruno Affonso e fabricadas na Chinas chegou. Seu irmão, Rodrigo Affonso, uniu-se ao negócio. Advogado de formação, pouco tempo depois ele também relegaria seu escritório de advocacia em prol da Lev.
Adaptações
Trazer a ideia não significou, para a empresa, copiar exatamente as bicicletas que Bruno Affonso via nas ruas da China. Houve mudanças no desenho dos quadros, nas cores e também em algumas funções. “Eles têm um gosto diferente do nosso: lá, as bikes têm cores mais frias e são para uso pesado, sem muita preocupação com o design. Por isso, fizemos essa parte do zero. Incluímos alarme, tranca na roda traseira, faróis de LED e uma série de outros detalhes, unindo tudo que víamos de melhor lá”, afirma o empreendedor.
Outra mudança foi na bateria: na China, elas eram maiores do que o padrão internacional por conta das grandes distâncias percorridas diariamente, diz Bruno. Nas bicicletas da Lev, a bateria segue o padrão – tanto para baixar o preço quanto para a leveza do produto.
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Crescimento
Assim que o primeiro contêiner da Lev chegou ao Brasil, as bicicletas elétricas foram testadas informalmente por amigos e familiares dos irmãos Affonso. Segundo Bruno, pessoas de todas as idades e profissões viam o produto algo diferente e interessante.
O empreendedor havia voltado ao Brasil para receber o contêiner. Logo que confirmou a aceitação do produto, voltou à China para terminar um segundo modelo e atender à demanda do primeiro, certificando-se de que o produto iria sair exatamente como planejado. Atualmente, ele vive entre os dois países.
As peças são fabricadas lá, de acordo com o projeto desenvolvido pelos empreendedores. Quando elas chegam ao Brasil, a Lev monta o produto e vende. Na própria loja, o cliente pode fazer um test-drive e escolher o modelo, a cor e alguns detalhes customizados. Essas alterações cosméticas são feitas na oficina da empresa, onde também são feitas futuras manutenções.
Hoje, a Lev possui cinco lojas próprias e duas franquias: quase todas estão no estado do Rio de Janeiro – apenas uma fica na cidade de São Paulo, no bairro do Itaim. Outras 30 lojas revendem as bicicletas elétricas da Lev. A empresa também possui um parceiro comercial em Miami, nos Estados Unidos.
Para comprar uma bicicleta elétrica da Lev, é preciso desembolsar entre 3,9 mil reais e 5,4 mil reais. Ao todo, 25 mil delas já foram vendidas. Segundo Bruno, a maioria dos seus clientes usa a bicicleta como meio diário de transporte, e não apenas para lazer. “No começo, o lugar para andar era pouco: as pessoas tinham que andar no meio dos carros. Com as ciclovias, mesmo quem não tem experiência com bikes pode andar tranquilamente. Isso fez com que as pessoas tentassem trocar o carro pela bicicleta elétrica, e vissem como era agradável a experiência.”
Futuro
Outras duas lojas serão abertas neste ano – uma em Niterói e outra na cidade do Rio de Janeiro. “Não temos um plano agressivo de abertura de lojas. Trabalhamos para atender a demanda de quem já possui nosso produto, focando muito no nosso pós-venda. Temos clientes que têm a mesma bicicleta há seis anos, quando lançamos o produto”, diz Bruno.
Além do Rio, duas áreas receberão mais atenção: São Paulo e os Estados Unidos. “Vemos São Paulo como um mercado com potencial muito grande, por conta da expansão das ciclovias. Nos Estados Unidos, estamos negociando mais um parceiro, dessa vez em Washington”. A expectativa da Lev é faturar 20 milhões de reais em 2016 – o dobro do ano passado.
Fonte: EXAME