A estratégia de aliados de Bolsonaro para enfrentar Lula na reta final do governo

Numa reunião a portas fechadas em Brasília, na semana passada, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro no Congresso Nacional acertaram a estratégia para enfrentar o governo Lula na segunda metade do seu mandato.

Lideranças da Câmara e do Senado decidiram que vão evitar temas que dividem o eleitorado e focar a artilharia em temas da agenda econômica, como a alta no preço dos alimentos e da gasolina, o descontrole fiscal, os juros elevados e a alta cotação do dólar, além de insistir na instalação da CPI dos Correios para amplificar o discurso contra o aparelhamento de empresas estatais.

“Nós vamos deixar um pouco de lado as pautas ideológicas que são bandeiras que já estão intrínsecas no nosso DNA, e focar mais na questão econômica que está impactando no bolso e na mesa de cada um dos cidadãos brasileiros”, disse ao blog o senador Jorge Seif (PL-SC). “A pauta econômica hoje é a prioridade da oposição.”

Na lista de iniciativas estão desde discursos na tribuna repudiando as políticas do governo Lula até convocações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para se explicar ao Congresso.

Já dando início à estratégia, Jair Bolsonaro mandou no último domingo (9) uma mensagem de texto à bancada do PL ditando o tom da oposição.

“A agenda de costumes já está incorporada, está em nosso sangue. A marca da direita: menos impostos, liberdade econômica/religiosa/expressão, PIX, política externa, legítimo direito à defesa, propriedade privada, defesa da democracia/família, etc”, escreveu Bolsonaro na mensagem obtida pelo blog.

Os bolsonaristas se animaram com os resultados da pesquisa Quaest, divulgada em 27 de janeiro, que mostrou pela primeira vez a desaprovação ao governo Lula (49%) superando numericamente a aprovação (47%).

No mesmo levantamento, violência, questões sociais e economia foram apontados como os principais problemas do Brasil. Outra notícia ruim para o governo Lula foi que 50% dos entrevistados afirmaram que o Brasil está na direção errada e apenas 39% veem o país no caminho certo.

Estatais na mira

Em outra frente para fustigar a administração lulista, a oposição pretende acionar cada vez mais o Tribunal de Contas da União (TCU) para investigar licitações, contratos, despesas de autoridades com viagens e prejuízos nas estatais.

Isso já começou a ser feito com o pedido do líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL- RN), para que a corte de contas investigue a fundação IBGE+, criada pelo presidente do órgão para fazer convênios com entidades e o setor privado.

Outra frente se dará no Senado, onde a tropa de choque bolsonarista já reuniu 28 assinaturas – mais do que o mínimo necessário – para instalar a CPI dos Correios, que pode se tornar um novo foco de tensão nas relações entre o Parlamento e o Palácio do Planalto.

“Esse é um governo que aparelha a máquina pública, então evidente que toda hora vai ter problemas, porque não há profissionalização na ocupação de cargos importantes. Há um aparelhamento em função do viés ideológico, e isso está gerando problemas tanto nos Correios quanto nos fundos de pensão”, criticou Marinho.

O objetivo da CPI, proposta por Marcio Bittar (União Brasil-AC), é investigar interferências políticas na estatal, problemas de gestão no fundo previdenciário e irregularidades na gestão financeira e administrativa. Só o rombo dos Correios no ano passado foi de R$ 3,2 bilhões.

Conforme informou o GLOBO, mesmo registrando déficit nos dois últimos anos, os Correios aumentaram seus gastos relacionados a dirigentes neste período, segundo dados da própria estatal. A despesa com essa rubrica passou de R$ 5,910 milhões em 2022 para R$ 8,159 milhões em 2023, um aumento de 38%, enquanto a inflação no período teve uma variação de 4,62%.

Para que a CPI seja oficialmente aberta, porém, é preciso que o requerimento seja aceito pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e lido em plenário. Por enquanto não há garantias de que Alcolumbre vai instalar a CPI. Mas enquanto isso não ocorre, a oposição vai tentando minar o governo.

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