Em meio às Olimpíadas de Paris, a moradora da cidade francesa, Karine Amiel, de 49 anos, desembarcou com a família no Rio, na última quarta-feira. Num primeiro passeio pelo Centro histórico, mais especificamente no Arco do Teles, ela, o marido e os dois filhos tiveram um gostinho de como é o carnaval da cidade. No Centro Carioca de Fotografia, a exposição “Alafiou Viradouro” mostrou, em fotos e com o samba-enredo como música ambiente, o desfile da campeã do carnaval 2024. O espaço recém-inaugurado é um dos contemplados pelo programa Reviver Centro Cultural, que hoje alcança a marca de 12 projetos em funcionamento.
Pela primeira vez no Rio, a família francesa fazia um tour pelo Centro para conhecer a cidade, com um guia de turismo. Na Travessa Comércio, enquanto observavam os sobrados antigos, eles encontraram a galeria aberta e foram atraídos pelas cores chamativas da fantasia exposta na vitrine.
— A exposição e as fotografias estão maravilhosas. É muito legal ver o trabalho dos artistas. Fiquei impressionada com as cores. Dá vontade de voltar para o Rio só para ver o carnaval. A gente vai voltar, com certeza — disse Karine.
Quem também passava por lá e teve a grata surpresa foi a professora de Direito Penal Thayla Conceição, de 33 anos. Ela trabalha num coworking na Rua Primeiro de Março e decidiu dar um pulo no Arco do Teles para saber se o espaço já estava aberto.
— Eu conhecia o trabalho da Renata pelas redes sociais. Ver de perto é muito legal. O espaço está incrível. Que diferença que faz passar aqui e ver essa ocupação artística! — relata Thayla, que ama carnaval e até desfilou com a Vila Isabel: — Já mandei fotos para vários amigos virem visitar. É muito legal poder ver as fotos depois dos desfiles com calma, no dia a gente não consegue ver direito.
Toda essa movimentação no Centro Carioca de Fotografia é recente. A idealizadora Renata Xavier inaugurou na semana passada, dia 26 de julho, com a exposição da Viradouro, com curadoria dela e do carnavalesco Tarcísio Zanon.
— Vem gente de tudo que é lugar do mundo, Espanha, Romênia, Rússia… Eu sou de Niterói e fotografo a Viradouro desde 2018. Neste ano, a escola ganhou, tínhamos um material de ouro e calhou com a abertura do espaço. Nossa proposta é fomentar a memória visual do Rio, a cultura, a cidade, o povo, e dar lugar aos cronistas visuais cariocas. Estou superanimada — conta Renata.
Fomento à ocupação dos sobrados
Lançado em janeiro do ano passado pela prefeitura, o programa Reviver Centro Cultural tem o objetivo de incentivar a reocupação do Centro do Rio, que sofreu um êxodo em massa de empresas depois da pandemia. O apoio a projetos culturais acompanha o incentivo às moradias no bairro, objetivo do programa Reviver Centro.
O município abriu inscrições para proprietários dos casarões participarem, e 39 endereços foram registrados. A prioridade foram as lojas de fachada e térreas, entre as avenidas Presidente Vargas e Rio Branco e as ruas Primeiro de Março e da Assembleia, além de um trecho da Orla Conde. Depois, abriu inscrições para projetos artísticos e culturais. Os que são habilitados ficam responsáveis pela negociação do aluguel dos imóveis, e pela apresentação do contrato de locação junto à prefeitura.
Depois que assinam o contrato, para incentivar os novos ocupantes, a prefeitura paga reformas de até R$ 192 mil (mil reais por metro quadrado) e até R$ 14,4 mil mensais (R$ 75 por metro quadrado) para cobrir despesas como aluguel e conta de energia elétrica por, no máximo, quatro anos. Uma contrapartida é ficar pelo menos 30 meses no imóvel — tempo padrão para contratos de aluguel, que serão firmados diretamente entre os representantes dos projetos e os proprietários dos imóveis.
Ao todo, 43 projetos estão com contratos assinados, entre museus, espaços culturais e galerias. Desses, 12 já estão funcionando. Os critérios utilizados foram os de sustentabilidade financeira no longo prazo, a forma de ocupação, o nível de interação com o espaço público e a capacidade de operar em horários alternativos (à noite e nos fins de semana).
— A expectativa é de que todos estejam funcionando até, no máximo, o início do ano que vem. É importante levar atividades para o centro da cidade. O pessoal que toca os projetos conversa entre si, tem canais nas redes para promover atividades juntos. É uma nova comunidade cultural se formando — afirma Chicão Bulhões, secretário municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico do Rio.
A Casa Tucum, no número 30 da Rua do Rosário, levou a cultura indígena de várias aldeias e etnias em um espaço cheio de referências, artesanato e decoração ancestral, que guia o visitante pela cultura dos povos originários do Brasil. Lá a programação vai de slam de poesia até oficinas de medicina tradicional e residências artísticas.
— Todo o mobiliário, por exemplo, foi feito a partir de uma imersão que fizemos na bacia hidrográfica do Xingu. A gente foi nas aldeias de Pataxó, em Paraty, na Aldeia Maracanã, aqui no Rio. A experiência da loja foi pensada para guiar o visitante a uma jornada pelas artes, joias e grafismo indígenas. Sempre com pessoas indígenas como protagonistas — afirma Amanda Scarparo.
Nesta sexta-feira, inaugura o 12º projeto contemplado pelo Reviver. É o Espaço Cultural Urbana Carioca, destinado à pesquisa e divulgação do patrimônio histórico e arquitetônico do Centro da cidade, e um espaço de debate sobre a evolução urbanística e social da região. O espaço oferece cursos gratuitos e pagos, área de exposições e debates, e uma sala de projetos voltada para mulheres estudantes de arquitetura.
— O Rio tem muitos bens protegidos e tombados. O Centro é uma área de grande relevância para o patrimônio nacional. Queremos colocar isso em evidência e reunir pessoas que queiram conversar e debates sobre os aspectos históricos, culturais, políticos, arquitetônicos e urbanistas do Centro do Rio — conta Diego Lacerda, produtor cultural e idealizador do projeto, que oferece o primeiro curso gratuito no próximo dia 10, das 9h às 16h, de Arqueologia e restauração de obras de arte. As inscrições para as 25 vagas estão abertas.
Projetos em funcionamento
Arrecife Rio – Rua do Rosário, 61, loja A
Centro Carioca de Fotografia – Travessa do Comércio, 11
QueeRIOca – Travessa do Comércio, 16
Casa Tucum – Rua do Rosário, 30
Galeria Refresco – Rua do Rosário 26/28
MetaGallery Dao – Rua da Assembleia, 40
IBORU – Rua Sete de Setembro, 43 Loja B
Cará – Rua Sete de Setembro, 43 Loja A
Ginga Tropical – Rua da Alfândega, 19
Casa de Cultura Volta do Mundo – Rua do Rosário, 24
Abapirá – Projeto Janelas – Rua do Mecado, 45
Urbana Carioca – Praça XV, 34
Projetos que ainda irão inaugurar
Museu da Caricatura Brasileira – Rua Primeiro de Março, 22
Diário do Rio de Cultura – Travessa do Comércio, 2 a 6
Casa Proeza – Rua do Ouvidor, 26
Instituto Vida em Equilíbrio – Rua da Quitanda, 87
Teatro do Mar – Rua Sete de Setembro, 63.
Casa Carnaval – Rua do Mercado, 37
Museu do Café – Rua do Ouvidor, 28
Instituto Brasileiro de Legados, Heranças e Acervos Culturais – Rua Primeiro de Março, 26
Junta Local – Rua do Mercado, 35
Espaço Orbe – Rua Primeiro de Março, 19
Casa Nah Linha – Rua do Rosário, 61, loja B
Escola da Diversão – Rua dos Mercadores, 8, Loja A
Companhia Espaço Descalços – Rua Primeiro de Março, 12
Casa do Pandeiro – Travessa do Ouvidor, 36
Companhia Urbana de Dança – Rua Primeiro de Março, 23
Museu do Grafitti – Rua Primeiro de Março, 39
Escola do Absurdo – Rua da Quitanda, 68
Emex Dance Studio – Rua Buenos Aires, 30
Calma Centro – Espaço Trauma – Rua do Carmo, 58
Casa Amo Cordel – Rua Buenos Aires, 47
Amarathi – Rua da Quitanda, 109
Academia Brasileira de Artes Carnavalescas – Travessa do Ouvidor, 9
Rio Café Comedy Club – Rua Buenos Aires, 53
Projeto Diversidade – Rua do Rosário, 114
Espaço Mistura Gente – Rua da Alfândega, 50
Livraria Autografia – Rua do Rosário, 78
Shinjuku (NAU) – Travessa do Ouvidor, 10
Projeto Redoma – Rua Buenos Aires, 59
Espaço Quitanda 23 – Rua da Quitanda, 23
Projeto Cultura Incessante – Rua Primeiro de Março, 21, Loja A
Coopa Roca – Rua da Quitanda, 50
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