Alta nos preços de petiscos e ‘fast food’ faz empresas repensarem estratégias

Seis dólares, o equivalente a R$ 32, é muito caro por um pacote de Ruffles? Após quase três anos de aumentos de preços, sinais de que os consumidores chegaram ao limite para desembolar a quantia estão começando a surgir.

Na quinta-feira, a gigante de alimentos e bebidas PepsiCo relatou uma queda de 0,5% nas receitas no segundo trimestre em seu negócio de biscoitos Frito-Lay — equivalente à Elma Chips — em relação aos níveis do ano anterior, resultado de uma queda de 4% nos volumes de vendas na categoria.

Em uma conferência de resultados, os executivos da PepsiCo foram bombardeados com perguntas de analistas acerca do preço de alguns de seus biscoitos mais populares, como os chips de tortilha Tostitos e as batatas fritas Ruffles: eles simplesmente não se tornaram caros demais?

Os executivos reconheceram que alguns consumidores estão se tornando cada vez mais conscientes dos preços, com famílias de todas as faixas de renda buscando preços mais baixos.

— Há claramente um consumidor que está mais desafiado. E um consumidor que nos diz que, em partes específicas de nosso portfólio, eles querem mais valor para permanecer com nossas marcas — disse o CEO da PepsiCo, Ramon Laguarta.

Para fazer com que mais pessoas comprem os produtos, a PepsiCo disse que pretendia reduzir os preços ou oferecer mais promoções em certos biscoitos e outros produtos.

— Há algum valor a ser devolvido aos consumidores após três ou quatro anos de muita inflação — disse Laguarta.

A PepsiCo não é a única empresa de alimentos e bebidas enfrentando dificuldades com consumidores que mudaram seus hábitos de compra nos últimos meses. À medida que os preços das commodities e da mão-de-obra dispararam nos últimos anos, empresas de alimentos e bebidas, bem como restaurantes, responderam aumentando os preços de forma constante.

Agora, no entanto, alguns consumidores estão no limite, comprando menos ou optando por marcas mais baratas de supermercados.

A inflação, especialmente dos alimentos, provavelmente será um tópico quente nas eleições presidenciais deste ano. Na quinta-feira, o governo relatou que o índice de preços ao consumidor geral moderou para 3% em junho, em base anual, abaixo dos 3,3% de maio e significativamente reduzido do pico de 9,1% em 2022.

Mas o custo dos alimentos em supermercados e restaurantes é substancialmente mais alto do que há quatro anos, embora os preços tenham moderado nos últimos meses.

Os preços elevados dos alimentos não são apenas consequência do aumento das despesas com commodities e mão de obra, mas também de fabricantes de alimentos, varejistas e cadeias de restaurantes tentando satisfazer investidores, incluindo fundos de pensão estaduais e outros. Preços mais altos aumentam as margens de lucro e pagam bilhões de dólares em dividendos e recompras de ações.

Agora, no entanto, à medida que os volumes das empresas de alimentos e o tráfego de alguns restaurantes começam a diminuir, fabricantes e cadeias de alimentos estão começando a considerar a redução de preços ou ofertas de promoções para atrair os consumidores de volta.

No final de junho, o McDonald’s começou a oferecer uma refeição de valor de US$ 5 (cerca de R$ 27) por um período limitado de um mês. A rede de supermercados americana Whole Foods disse que reduziu os preços de um quarto dos produtos em suas lojas. E a varejista Target disse que planejava cortar preços neste verão em cinco mil “produtos do dia a dia”, incluindo leite, pão e fraldas.

No geral, a PepsiCo disse que as receitas cresceram cerca de 1% no trimestre encerrado em 15 de junho, para US$ 22,5 bilhões (cerca de R$122 bi), e que o lucro líquido aumentou 10,4%, para quase US$ 3,1 bilhões (cerca de R$ 16,8 bi), em relação ao ano anterior. Mas uma análise mais profunda de alguns dos números revelou fraqueza em muitos dos negócios norte-americanos da empresa.

A Quaker, marca de barras de café da manhã e lanches, relatou uma queda acentuada de 18% nas receitas e uma queda de 34% no lucro operacional, devido em grande parte a um recall de alimentos que começou no final do ano passado envolvendo possível contaminação por salmonela de produtos alimentícios fabricados em uma fábrica de Danville, Illinois. Em abril, a PepsiCo decidiu fechar permanentemente a unidade.

Mas os analistas em uma teleconferência com executivos da PepsiCo na manhã de quinta-feira estavam mais focados no negócio de biscoitos.

A definição de uma estratégia de preços que reflita o que os consumidores estão dispostos a gastar, e o que não estão, ajudará a reverter a queda em muitos dos setores da empresa, disse Laguarta aos analistas.

— Você vê comportamentos diferentes acontecendo em todos os lugares. A linha de conexão seria: o consumidor está mais cauteloso. Mas ele está disposto a gastar em áreas onde vê valor — disse Laguarta.

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