O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comunicou ao presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, sua demissão do comando da estatal em uma conversa no fim da tarde de ontem no Palácio do Planalto.
A decisão já estava tomada há dias e foi comunicada a Prates numa reunião convocada por Lula e na qual também estavam presentes os ministros da Casa Civil, Rui Costa, e de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
Costa e Silveira se aliaram contra Prates no comando da estatal. O argumento usado é o de que Prates não estaria entregando resultados da Petrobras na velocidade em que o governo esperava.
A demissão ocorreu pouco mais de um mês após Prates entrar em rota de colisão com uma ala do governo na crise dos dividendos, a respeito do valor dos ganhos que seria distribuído aos acionistas. E um dia após a petroleira divulgar o resultado do primeiro trimestre, quando o lucro caiu 38%.
Prates defendia a proposta da diretoria de distribuir aos acionistas 50% dos recursos que sobraram no caixa após o pagamento dos dividendos regulares — R$ 43,9 bilhões. Já o grupo de Silveira e Costa defendia segurar todo o dinheiro em um fundo de reserva para melhorar as condições da empresa de obter empréstimos para investimentos. Lula arbitrou a disputa e determinou que os conselheiros indicados pela União votassem contra o pagamento. Depois, a Petrobras acabou aprovando o pagamento com aval de Lula.
Durante o auge dessa crise, Prates pediu uma reunião com Lula — e essa conversa aconteceu ontem.
De acordo com auxiliares, Lula decidiu pela demissão por ver problemas na gestão de Prates à frente da Petrobras. A saída vinha sendo cogitada desde o início de abril. Mas a avaliação interna é que o presidente da República prefere, em muitos casos, deixar o assunto esfriar antes de tomar uma decisão. Por isso, postergou por mais um mês a permanência de Prates no cargo. Assim, Lula deixou a crise esfriar para anunciar sua decisão.
Antes de demitir Prates, Lula conversou, nas últimas três semanas, sobre o futuro da Petrobras com Sergio Gabrielli, que comandou a estatal entre 2005 e 2012, nos dois primeiros mandatos de Lula, e com a ex-presidente Dilma Rousseff.
Mercadante foi cogitado
Em abril, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, chegou a ser cogitado como um possível substituto de Prates à frente da Petrobras, mas Lula optou por um outro nome, Magda Chambriard. Ela já havia sido considerada para o cargo durante a transição, em 2022, mas o nome de Prates acabou prevalecendo.
Após ser comunicado da decisão, Prates, avisou aos diretores da petroleira de sua demissão por meio de uma mensagem nesta segunda-feira. Nela, ele diz que o presidente pediu seu cargo e que, com isso, sua missão foi “precocemente abreviada na presença regozijada de Alexandre Silveira e Rui Costa”.
Os ministros de Minas e Energia e da Casa Civil haviam se tornado rivais de Prates no governo e advogavam pela troca no comando da estatal.
Mas no Planalto, a constatação era que também havia um conflito conceitual entre o que o Lula defende para a estatal e o modelo que estava sendo implantado por Prates na companhia.
O presidente da República é favorável a ampliar os investimentos em infraestrutura, como parques de refino e na indústria naval, e critica o que considera uma lógica de focar em apenas resultados financeiros positivos para a empresa. Outra área em que ele defende aportes é a fabricação de fertilizantes.