Delegado assumiu a segurança do então candidato presidencial após facada em 2018 e se aproximou da família. Em 2019, ele foi fotografado ao lado de Carlos Bolsonaro em festa de réveillon.
O novo diretor-geral da Polícia Federal (PF), Alexandre Ramagem, é delegado da PF desde 2005, chefiou a equipe de segurança de Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018 depois do atentado a faca em Juiz de Fora (MG) e, desde então, se tornou amigo próximo da família do presidente. Ele tem a confiança de Bolsonaro e dos filhos.
No réveillon de 2019, Ramagem foi fotografado ao lado de Carlos Bolsonaro, filho do presidente, durante a comemoração.
Em entrevista coletiva nesta segunda-feira (28), Bolsonaro comentou a proximidade de Ramagem com sua família.
“Ele ficou novembro e dezembro, praticamente, na minha casa. Dormia na casa da vizinha, tomava café comigo, aí tirou fotografia com todo mundo. Foi no casamento de um filho meu… Não tema nada a ver a amizade dele com o meu filho, meu filho conheceu ele depois. E eu confio, passei a acreditar no Ramagem, conversava muito com ele, trocava informações. Demonstrou ser uma pessoa da minha confiança, então a partir do momento que eu tenho uma chance de indicar alguém pra PF, por que não o indicaria?”, questionou Bolsonaro.
Ramagem na Secretaria de Governo
Em março de 2019, ainda no início do mandato de Bolsonaro, o delegado foi nomeado assessor do então ministro Santos Cruz na Secretaria de Governo – pasta que fica no Palácio do Planalto.
Ramagem foi mantido na secretaria, como assessor do novo ministro, Luiz Eduardo Ramos, após a demissão de Santos Cruz, em junho de 2019.
No mês seguinte, em julho, o delegado foi escolhido por Bolsonaro para ser diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que é vinculada ao gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, comandada pelo ministro Augusto Heleno. Segundo o GSI, a Abin produz informações para embasar decisões do presidente da República de forma rápida.
Na posse, o presidente se referiu a ele como “um amigo que conheci há pouco tempo”.
Na Polícia Federal, Ramagem comandou as divisões de Administração de Recursos Humanos e de Estudos, Legislações e Pareceres, e atuou na área de coordenação de eventos como a Copa do Mundo de 2014, a Olimpíada de 2016 e a Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente.
Bolsonaro demitiu chefe anterior
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Ao anunciar sua saída, Moro afirmou que Bolsonaro tentou interferir politicamente na PF ao demitir Valeixo. O presidente nega e diz que Moro propôs aceitar a exoneração do então diretor-geral da corporação se fosse indicado ministro do STF. Moro nega.
Como prova da interferência, o ex-ministro exibiu uma imagem que mostra que o presidente lhe enviou, pelo celular, o link de uma reportagem do site “O Antagonista” segundo a qual a PF está “na cola” de dez a 12 deputados bolsonaristas.
O presidente, então, escreveu: “Mais um motivo para a troca”, se referindo à mudança na direção da Polícia Federal.
Sergio Moro respondeu ao presidente explicando que a investigação não tinha sido pedida pelo então diretor da PF, Maurício Valeixo.
Também na sexta-feira, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a permanência das equipes da Polícia Federal que tocam os inquéritos que ele preside, mesmo com a mudança no comando da PF.
Uma dessas investigações trata da origem de fake news e ameaças anônimas feitas aos integrantes do STF. Outro inquérito, aberto esta semana no Supremo, investiga a organização e o patrocínio de atos antidemocráticos – num deles, no dia 18 de abril, o presidente Bolsonaro discursou.
Parcialidade do governo
Colocar um policial ligado à família no maior órgão de investigação do país levou a duras críticas de parcialidade do governo numa corporação que tem autonomia e independência.
O deputado Marcelo Freixo (PSOL) disse que vai apresentar uma ação para impedir que Alexandre Ramagem assuma o comando da Polícia Federal. Segundo ele, o presidente quer transformar a PF numa polícia política a serviço da família.
Internamente, delegados dizem que é preciso deixar claro que a PF não é um órgão de inteligência como a Abin e não está a serviço do governo.
A Polícia Federal é um órgão de polícia judiciária da União, que faz investigações solicitadas pelo Judiciário. Esses delegados destacam que quanto mais relevante for uma investigação, mais sigilosa ela deve ser, exigindo autorização judicial para ter acesso aos dados.
Fonte: G1