Oito meses após renunciar ao cargo de conselheira da TAM e da Latam, líderes respectivamente dos mercados de aviação no Brasil e na América Latina, Maria Claudia Amaro lançou oficialmente nesta semana o Lab Educação, projeto de ensino que se propõe a criar, testar e aprimorar modelos inovadores de educação, para replicar, em escala, iniciativas e metodologias em instituições de ensino.
Numa segunda fase, o Lab Educação será uma rede de escolas. O plano é chegar a 20 unidades, no Brasil e fora do país. Maria Cláudia quer atender a demanda do ensino básico e fundamental também exterior, com unidades que seguirão a grade curricular e o calendário escolar do Brasil. “Seremos a primeira escola internacional brasileira”, planeja a filha do fundador da TAM, Comandante Rolim, com quem apreendeu a se diferenciar da concorrência pela inovação.
O plano de negócios do Lab Educação soma R$ 5 milhões em investimentos para o biênio 20152016, com aportes realizados integralmente pela empresária. A expectativa é que o projeto esteja gerando receita própria ainda este ano, o que deve reduziria progressivamente o aporte de capital previsto no período.
Já o investimento para a etapa da rede de escolas deve somar até R$ 150 milhões. “Em algum momento mais para a frente haverá o aporte de um investidor, na medida em que o projeto demandar escala”, diz Maria Cláudia, que até dois anos atrás fazia parte da diretoria de uma operação de 30 mil funcionários e R$ 16 bilhões de faturamento anual.
O público-alvo da rede e do Lab Educação será a classe média, mas também estudantes de escolas públicas e comunidades. “Queremos dar um ensino de qualidade e acessível, gerar receita, ser rentável, e, assim, financiar atividades junto a escolas públicas”, diz Maria Claudia.
A ideia do Lab Educação nasceu do encontro de duas “crises existenciais”, conta a ainda maior acionista brasileira da Latam, controladora da brasileira TAM e da chilena LAN, que faturou US$ 12,5 bilhões em 2014. “Eu me perguntei se iria querer seguir na aviação pelo resto da vida. A TAM virou uma gigante depois da fusão com a LAN, um grupo mundial. Eu não precisava mais fazer tanto na empresa porque ela foi profissionalizada”, conta a empresária, de 47 anos, que desde os 20 frequenta hangares. “Ao mesmo tempo, minha filha mais velha [ela é mais de duas meninas] estava entrando na adolescência e vi que havia desafios no setor educacional”.
Em 2013, Maria Claudia convidou Luiza Barguil, ex-conselheira da Unesco para ciências, tecnologia e inovação, a encontrar um segmento desafiador para empreender. “Ela me veio com a ideia de investir em educação porque há grandes oportunidades e espaço para inovar”, diz Maria Claudia.
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Se no setor aéreo Maria Cláudia comandou a líder de um setor que contribui no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro com R$ 60 bilhões, segundo estudo da Associação Internacional do Transporte Aéreo (Iata), de forma bastante concentrada – são apenas quatro companhias nacionais -, no ramo educacional de ensino básico e fundamental privado ela vai enfrentar uma concorrência extremamente pulverizada, em que quase 40 mil estabelecimentos disputam aproximadamente R$ 40 bilhões em despesas de 8 milhões de estudantes, segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Na busca por diferenciais para o projeto, as sócias Maria Claudia e Luiza Barguil viajaram por um ano por América do Norte, Europa e Ásia. O roteiro foi o livro “Volta ao Mundo em 13 Escolas”, de Eduardo Shimahara, diretor de inovação e sustentabilidade do Anima Educação, em parceria com o jornalista André Gravatá e as pesquisadoras Camila Piza e Carla Mayumi.
Após inúmeras visitas a escolas e congressos, o modelo que inspirou o Lab Educação foi o de uma escola de Nova York, a Quest to Learn. “Eles têm um centro para criar e aplicar jogos ao ensino, o ‘gamification’. Pensei: por que não partir do laboratório antes de lançar a escola?”, diz Maria Claudia.
Outros princípios foram aproveitados. As empreendedoras exploram conceitos do inglês Ken Robinson, consultor em educação para o governo britânico; do indiano Sugata Mitra, que idealizou uma escola “na nuvem”; do português José Pacheco, criador de um modelo educacional em que são as crianças que escolhem suas áreas de interesse para desenvolver pesquisa; da americana Katie Salen, diretora de pesquisa e design do Institute of Play; e do economista alemão Otto Scharmer, professor do MIT.
A empresária graduada em marketing e administração pela Flórida International University, que começou a trajetória profissional em 1986 no Banco Itamaraty, diz que em todas as escolas visitadas há um ponto em comum: o envolvimento com a comunidade. “A escola precisa ser acolhida pela comunidade e, para isso, precisa impactar, transformar essa comunidade”, diz Maria Cláudia.
Em janeiro deste ano, foi lançado em São Paulo o piloto do primeiro projeto, com atividades extra-curriculares desenvolvidas em parceria com os alunos de escolas públicas, privadas e organizações não-governamentais.
O “comida brincante” foi o escolhido dentre 12 projetos-piloto. Uma jornada de atividades ao longo de dois dias, em que as crianças mergulham no mundo dos alimentos – da produção até a reciclagem, passando pelo desafio de preparar uma refeição para os pais. “Abdiquei da minha atuação empresarial para me entregar de corpo e alma ao projeto de criar um novo paradigma de educação no país”, diz Maria Cláudia sobre o Lab Educação.
Fonte: Valor Online