Está prevista para terça-feira (2) a votação no
Senado do PL
2.630/2020, projeto que cria a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e
Transparência na Internet, já chamada de Lei das Fake News. O projeto é de
autoria do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e dos deputados Tábata
Amaral (PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES).
Para debater o tema, a Frente Digital fez o webinar
“Todos Contra Fake News – liberdade de expressão online & estratégias de
mitigação da desinformação” nessa segunda-feira (1) e reuniu o presidente e
coordenador-geral da Frente Digital, os deputados federais – JHC (PSB – AL) e
Vinicius Poit (NOVO-SP), respectivamente –, além dos deputados Orlando Silva
(PCdoB-SP); Paulo Ganime (NOVO – RJ); Mariana Carvalho (PSDB- RO) e os
co-autores Felipe Rigoni (PSB-ES) e o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).
Também participaram representantes do Facebook, Google, Twitter e Whatsapp; as
agências de checagem Aos Fatos e Lupa, o ITSRio, o Internet Lab, e a Coalizão
Direitos na Rede, entre outros.
A conclusão majoritária é que o projeto de lei não
está maduro para ser votado. Falta debate na sociedade. Do jeito que ele está
sendo apresentado houve um “atropelo”. O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP)
chegou a dizer que acha necessário o adiamento da votação no senado.
No primeiro painel, o deputado Vinícius Poit
(NOVO-SP), esclareceu que todos são contra fake news. “Isso não temos dúvidas,
mas problemas complexos exigem soluções sofisticadas. Não podemos, por exemplo,
responsabilizar, generalizadamente, os provedores das aplicações, as
plataformas, ou virar uma instrumentação política. Por isso, precisa expandir
os debates”. Poit comparou com o Marco Civil da Internet: “Foram quatro ou
cinco anos de discussões e ele trouxe uma inovação. As plataformas só seriam
penalizadas depois de uma investigação judicial e só retirariam do ar se elas
não cumprissem as determinações.”
O autor do projeto, o senador Alessandro Vieira
(Cidadania-SE), alertou que o tema é central e importante. “A disseminação da
desinformação contamina todo o debate democrático no mundo. Dando um passo
atrás, esse projeto de Lei não brotou do nada”. Durante o debate, o senador ainda
alegou que a PL vai desabilitar as ferramentas que são utilizadas para o
acometimento do crime. “São o uso de contas falsas, de redes não rotuladas e a
questão do direito do usuário perante as plataformas”.
Já a Bia Barbosa da Coalizão Direitos na Rede
alegou: “Todos achamos fundamental desenvolver iniciativas para combater a
desinformação. A gente nem gosta de usar o termo ‘fake news’ que foi
popularizado, mas o termo desinformação, porque ele dá conta da complexidade
dessa discussão. Mas, a gente não acha que essa discussão precisa ser feita a
partir de uma regulação de conteúdo, principalmente, em um cenário em que a
regulação vai ser feita por agentes privados”.
Mônica Rosina, gerente de políticas públicas do
Facebook destacou que somente nos primeiros três meses desse ano, 1,7 bilhões
de contas falsas foram removidas e que a rede social está atuando em duas
frentes no combate a desinformação “O pilar da remoção, é importante entender
porque remove e o que ele remove, e o da redução, que a redução da distribuição
no alcance de conteúdo de baixa qualidade”.
Durante o segundo painel, o presidente da Frente
Digital, o deputado federal, JHC (PSB – AL), declarou a importância da internet
no cotidiano das pessoas. “Hoje nos acompanhamos tudo através da internet e
isso se tornou um direito vital para a democracia, direitos consagrados para a
nossa internet. Essa é uma linha tênue, que a gente precisa nesse momento,
trazer para a realidade o que estamos vivendo. Claro que todos queremos
combater as fake news, a desinformação, mas temos que fazer uma discussão
profunda, que possa ter um respaldo necessário”, ressaltou.
O Presidente da Frente Digital também defendeu a
criação de Juizados Especiais online especializados em causas da internet.
Para Tai Naion, da Agência Aos Fatos, o projeto
deveria ser retirado da pauta nesse momento de pandemia. “O Aos Fatos não
acredita que o problema da desinformação vá embora por meio de canetada. De
modo que de fato a gente acredita que a retirada do projeto da pauta nesse
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academia, cientistas, ativistas, partidos políticos, todo o campo democrático e
da formação de políticas públicas consistente deveria ser ouvido de forma mais
prolongada”.
O deputado e coautor do projeto Felipe Rigoni
(PSB-ES), disse que foi entregue hoje (1) nova redação, fazendo concessões já
debatidas. Mas, foi alvo de críticas durante o debate porque essas alterações
foram realizadas às vésperas da votação e, portanto, não houve tempo hábil para
serem analisadas.
No penúltimo painel, Bruna Martins dos Santos,
analista de Policy e Advocacy na Coding Rights, afirmou “eu começaria a
resposta com o desafio que tivemos com o Marco Civil da Internet. Ele não é
tecnológico, mas tem que ser um desafio da abordagem o que queremos como uma
lei que trate de internet”. Em outro momento do debate, a analista acrescentou
“é importante que a gente pense numa regulamentação que não resulte em
restrições de direitos”.
O deputado federal, Orlando Silva (PCdoB-SP)
debateu “A tecnologia que me interessa é o desafio da tecnologia legislativa,
que permita a produção de marcos regulatórios eficientes, e nesse campo, exige
minimalismo”. Ainda durante a sua participação, ele alegou “uma lei que trata
de um aplicativo, de uma plataforma, a chance de se tornar obsoleta rapidamente
é grande. E no caso aqui, isso é mais grave, pois estamos lidando com conceitos
que tem uma dimensão ética muito forte: o conceito de desinformação. É muito
mais do que isso”.
No último painel, o assunto “Leis, follow the Money
& Código de conduta. O que deu certo pelo mundo? Fernando Gallo, do Twitter
– “Respondendo essa pergunta – o que deu certo pelo mundo? – Essa questão é
fundamental para olhar a experiência internacional. Aliás, é de boa prática de
elaboração de política publica observar o que vai foi produzido pelo mundo e
seria bastante importante que a gente tivesse tempo de trazer para o debate
nacional, os autores internacionais relevantes que têm há anos se dedicado para estudar o tema”. Além
disso, Gallo ainda acrescentou “o debate é complexo e existe pouco consenso.
Esse projeto especificamente foi apresentado no Senado no dia 13 de maio, está
pautado para ser votado amanhã (2), a partir de uma avaliação de um relator que
foi designado hoje, e até agora, a gente não conhece o teor do que vai ser
votado.”
Em sua apresentação, Paulo Ganime (NOVO-RJ) alertou
“Eu entendo que muitas vezes a forma de combater a desinformação é a
informação. Acima de tudo, o tema é complexo e polêmico. O momento político
traz a relevância desse tema, e o parlamento tem o hábito ruim de tentar achar
soluções milagrosas para problemas complexos e estamos vivendo isso mais uma
vez”.
O site de peticionamento AVAAZ e a ABERT (Associação
Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) cobraram a responsabilização das
plataformas. Marcelo Bechara, diretor da Abert e da Globo no entanto alertou:
“O PL que eu recebi agora pouco não é bom. É um PL que não vão resolver o
problema. De forma alguma eu quero passar a impressão que estou fazendo o
discurso de taxista contra o Uber, até porque não. Essas plataformas são
fundamentais, elas ecoam o nosso conteúdo”.
Todo o debate está disponível pelo YouTube, no link: https://www.youtube.com/watch?v=qc1wX5r2yVU
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Marina Ciaramello marina.ciaramello@insightnet.com.br
Luana Magalhães – luana.magalhaes@insightnet.com.br